sábado, 19 de abril de 2014

Natan Vasconcelos

A Passagem Uma das coisas que me deixam mais tristes é saber que a minha vida não vai ser a mesma de quando eu tinha seis anos. De quando mamãe me abraçava na porta da cozinha depois de lhe mostrar os poemas sobre o Chops , meu cachorro, que eu fazia na escola, todos com um "A" e uma estrela dourada, e depois ela os lia para minhas tias. De quando o padre Tracy levou as crianças do bairro ao zoológico e todos pudemos cantar, foi muito divertido. Sem contar que foi o ano em que a Katie, a minha irmã, nasceu. Eu a amei desde aquele momento. Judy me mandou um cartão do Dia dos Namorados e os garotos da rua fizeram piadinhas. E como não lembrar dos jantares alegres, de mamãe e papai se beijando e rindo. E na hora de dormir, papai ficava comigo no quarto. Mas no meu aniversário de nove anos, quando as folhas de outono caíam e eu resolvi fazer um poema sobre isso, meu professor disse que eu deveria escrever com mais clareza. E minha mãe não me abraçou na porta da cozinha, porque a pintura nova ainda estava fresca. Ainda no outono os garotos da rua disseram que o padre Tracy fumava cigarros, e que as vezes ele esquecia as bitucas nos bancos da igreja. Isso explica os buracos. Foi o ano em que a Katie teve que começar a usar óculos, enormes e de armação preta. E Judy riu quando lhe perguntei se ela iria ver o Papai Noel. Papai parou de me cobrir antes de dormir e não ficava mais no quarto até eu dormir. Eu chorei e ele gritou comigo. Foi um ano bem triste. Era primavera quando tinha quinze anos, estava no secundário e namorava a Judy. Os garotos da escola perguntavam por que eu ainda não tinha traçado ela, e eu dizia que não era assim que funcionava. Eles me chamaram de "viadinho". Quando mostrei meu poema sobre Judy para o professor ele me deu um "A" e me olhou estranho. Quando cheguei em casa minha mãe não me abraçou, porque eu não mostrei meu poema pra ela. Meu pai tinha ganhado peso e estava bebendo cerveja e assistindo televisão. Ele não me cumprimentou. Mamãe e papai estavam sempre infelizes. De noite, naquele mesmo dia, eu sai para ver Judy. Katie estava na varanda dos fundos se pegando com o Brad, o capitão do time da escola e que era bem mais velho que ela. Pediu pra mim não contar pra mamãe. Eu disse que tudo bem. Quando cheguei no parque, a única pessoa lá era Judy. Nós ficamos conversando e ela disse que o novo padre era bonito. Me esqueci de contar, foi o ano em que o padre Tracy morreu de tuberculose. Ela estava usando maquiagem demais e isso me fez tossir quando a beijei. Fui pra casa. Quando passei pela sala, mamãe estava chorando e papai estava gritando com ela. Ele parou, olhou pra mim e mandou eu ir pro meu quarto. Eu subi as escadas chorando e me tranquei no quarto. Fiquei lendo poesias e às três da manhã eu fui me deitar. Papai roncava alto. Não conseguia dormir, pensando em como eu estava triste com tudo. Então eu peguei um caderno, uma caneta e fui para o banheiro. E é onde estou agora, escrevendo essas palavras para você, seja lá quem você for. Mas preciso parar de escrever. Preciso parar porque não quero continuar a viver. Não quero saber o quanto mais a minha vida pode piorar. Mamãe e papai, parem de brigar. Katie, me desculpe por não ter guardado segredo. O Brad não presta mesmo. Quero dizer que amo muito vocês. E me desculpe por sujar o banheiro de sangue. Adeus.

Simeia da Silva

Há momentos em que fico assim , reflexiva , solta no espaço , fora de mim mesma , dividida entre o real e o irreal.
Eu não tenho medo de voar e alçar novos horizontes , tenho medo é do que irei encontrar por lá.
Não tenho medo de ficar trancada em um lugar , tenho medo é de ficar por lá sozinha , só de pensar nisso não consigo respirar.
Eu não tenho medo de colocar meus pés no chão e caminhar por lugares muitas vezes diferentes e distantes , tenho medo é de não saber onde meus pés irão me levar. 
Tenho medo porque meus pés sentem a dureza do chão mas não sente o quanto ele é pode ser falso e muitas vezes egoísta.
Tenho medo de estar me sentindo livre como um passarinho , mas quando na verdade não estou e queria é estar dizendo: " Que palhaçada é essa de estar voando se não sou um passarinho?"
Tenho medo de não ter coragem de sentir e fazer tudo que tenho vontade , porque quando o tempo acabar estarei em outro lugar me perguntando porque não fiz o que queria.
Mas sei de uma coisa , se eu pudesse escolher meu caminho , meus sentimentos , escolheria com certeza não sentir mais tantos medos assim , escolheria ter mais coragem para enfrentar o presente e o que estivesse por vir.
Estou voando sim , sobrevoando as estações da minha vida , tentando encontrar o  futuro que nunca saberei onde irá me levar , tentando encontrar um fim para a angústia que muitas vezes paira sobre meu peito , tentando arrancar a água profunda que aprendi a chamar de presente.
Mas a verdadeira angústia de voar  tanto por aí é estar sempre acima da minha vida , sobrevoando sempre meu presente sem saber continuar  o caminho até chegar ao meu futuro.
Voar errado , sem rumo , sem a direção certa e sem esperanças , é muitas vezes a razão do nosso voo se tornar tão banal , sem destino ou previsão de chegar a direção certa.
Estou indo e voltando a algum tempo e só meus pés saberão aonde irão me levar.


Mais histórias da Simeia da Silva , em seu blog ---->http://ateliedoslivros.blogspot.com.br/p/meus-textos.html


Alina Ramos

Tema: "Uma partícula criada durante o Big Bang"

   Não sei bem o que aconteceu, mas na primeira vez que tive consciência de mim mesmo estava em um lugar extremamente brilhante e viajava à uma velocidade extremamente rápida. Sem saber direito o que estava acontecendo, sem a capacidade de fazer nada quanto a isso, tive que me deixar ir pela inércia. Vi uma gigantesca bola de terra ser formada, esfriar, e criar uma camada de gases se formar ao redor dela. Descobri anos mais tarde que isso se chamava planeta.
   Durante minha trajetória fui encontrando outras moléculas, e fomos nos agrupando. Ao nos agruparmos formamos uma coisa só, que hoje sei ser chamada água, e assim caímos.
   Por um bom tempo, nossa vida foi assim, convivendo só uns com os outros. Até que um dia algo mágico aconteceu. Mesmo estando lá, eu não sei bem o que houve, só me lembro que senti algo diferente. Algo que nunca tinha sentido antes. Algo... Se mexia. Dentro da água. Uma coisa ínfima (apesar de que maior que eu), disforme, mexia-se por conta própria. Fiquei maravilhado. Segui-o por todo lado durante anos. E aí surgiu outro. E outro. E outro. E nós nos acostumamos à presença deles. Voltamos às nossas vidinhas rotineiras, até o dia em que um deles mudou. Cresceu. Ganhou asas e muitas patas. Depois ganhou escamas e um rabo. Depois ganhou asas. Depois ganhou pêlos e passou a parir outros dele, só que menores. Por fim começou a andar ereto e
perdeu alguns pêlos.
   Um dia uma dessas criaturas tentou comer a mim e aos meus. Nos desesperamos, porque tínhamos assistido ao que acontecia a eles quando comiam uns aos outros (deduzo, por observação, que precisavam disso para viver), mas nada nos aconteceu. Viajamos por dentro do corpo da criatura e saímos, sem dano nenhum. Achei a coisa divertida. A partir daí paramos de temê-los e passamos a observá-los, nos agrupando de formas diferentes para nos tornarmos coisas mais próximas a eles.
   Essa última evolução mostrou-se particularmente interessante. Ela teve uma evolução própria. Começou com o convívio em comunidade. Depois aprenderam a se comunicar, aperfeiçoaram suas técnicas de combate (o que fazia com que os outros seres os temessem), descobriram uma coisa brilhante e quente, que eles chamaram "fogo", inventaram algo que eles chamavam "roda", e começaram a construir coisas. Aí que começou o problema.
Acho que as coisas saíram do controle, mas não sei exatamente quando. Acostumados a viver pela lei do mais forte, começaram a escravizar uns aos outros. Usavam pedacinhos de metal chamados "dinheiro" para comprar coisas e outros seres, que não pareciam contentes em serem vendidos. Construíram armas. Fizeram guerras. Um dia, entre as minhas muitas formas, virei uma pedra muito brilhante e azul. Quase tinha luz própria. Nunca tinha visto nada parecido, mas fiquei feliz em ser algo tão bonito. Um dia um homem (como aprendi que aqueles seres se chamavam) encontrou-me. Ficou maravilhado e quis estudar-me. Não me importei, e fiquei curioso pelo que eles descobririam. Descobri que eu era "radioativo". Chamavam-me "urânio" e embora não soubesse o que isso significava, me senti feliz pela entonação empolgada com que eles diziam isso.
   Puseram - me em um aparelho e depois em uma cápsula. Disseram que eu estava pronto. Fiquei tão empolgado. Puseram-me em um avião e me levaram para uma terra distante, onde os homens tinham olhos engraçados. Jogaram-me la de cima. Quanto mais me aproximava, mas ansioso ficava. Quando atingi o solo, houve um estrondo e um clarão. Quando pude enxergar novamente, tudo ao meu redor estava morto. Homens, filhotes de homens, árvores, tudo. Só nós sobrevivíamos. Meus amigos choravam. Chorei também.

Mais histórias da Alina Ramos , em seu blog -- >  http://my-cellardoors.blogspot.com



domingo, 6 de abril de 2014

Os Instrumentos Mortais

Quando Clary decide ir a Nova York se divertir numa discoteca, nunca poderia imaginar que testemunharia um assassinato – muito menos um assassinato cometido por três adolescentes cobertos por tatuagens enigmáticas e brandindo armas bizarras.
Clary sabe que deve chamar a polícia, mas é difícil explicar um assassinato quando o corpo desaparece e os assassinos são invisíveis para todos, menos para ela. Tão surpresa quanto assustada, Clary aceita ouvir o que os jovens têm a dizer…
Uma tribo de guerreiros secreta dedicada a libertar a terra de demônios, os Caçadores das Sombras têm uma missão em nosso mundo, e Clary pode já estar mais envolvida na história do que gostaria.
      Os Instrumentos Mortais - Cassandra Clare 

Volume I - Cidade dos Ossos
Volume II - Cidade das Cinzas
Volume III - Cidade de Vidro
Volume IV - Cidade dos Anjos Caídos
Volume V - Cidade das Almas Perdidas


O último da Saga "Os Instrumentos Mortais - Cidade do Fogo Celestial  " , está previsto para ser lançado em Julho de 2014